terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Família ê, Família á, Família...

"E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços."
Caio Fernando Abreu.


Pai e filha, após uma daquelas brigas típicas entre adulto e pré-adolescente, se encontram sentados na varanda da casa de praia, em silêncio. Uma borboleta voa pertíssimo deles, parecendo brincar com a impaciência de ambos. O pai, sem esperança de reconciliação, levanta, ameaçando deixar sozinha a filha, que agora não consegue parar de olhar para a borboleta. Era de um amarelo forte, alegre. E aquela alegria só permaneceria ali por mais 24 horas, ou menos. A menina sentiu um aperto no peito. Levantou-se e abraçou aquele de barba branca à sua frente, antes mesmo que ele pudesse reagir. "Eu te amo, pai."

***

Eram 02:30 da manhã. Acordou um tanto quanto assustada, olhou para os lados, e se perguntou de onde tinha vindo o barulho que a fez despertar. Nada. Será que havia sonhado? Não importava mais, já sentia medo. Tentou, em vão, pegar no sono novamente, até decidir que iria para o lugar mais seguro da casa: O quarto da mãe, solteira há anos. Com seu travesseiro debaixo do braço, abriu a porta devagar, temendo acorda-la, e deitou-se na cama, grande o suficiente para as duas mulheres da casa, mas que a mãe se recusava a deixa-la dormir todos os dias. "Você já é uma mocinha" diziam a ela. "As vezes, eu daria tudo para não ser uma mocinha." pensou, segundos antes de pegar no sono.

***

Os dois sempre dividiram o quarto. Cada cama colada em um lado diferente da parede. Cada parede com fotos de pessoas diferentes. Cada foto guardando lembranças diferentes. Cômodas e armários com roupas e sapatos diferentes. Um mesmo quarto guardando vidas tão diferentes. Eram diferentes, mas eram irmãos. E por serem irmãos, todas as noites antes de dormir, sentavam cada um em sua respectiva cama e contavam sobre seus respectivos dias. Discutiam questões sociais e choravam mágoas. Depois de dividirem tanto de suas vidas com o outro, desejavam boa noite, dormiam... E sem perceber provavam que o amor supera qualquer diferença!